Tem dias em que a gente acorda com tudo aparentemente no lugar — o quarto limpo, o celular carregado, o corpo funcionando — mas por dentro parece que algo ficou pela metade.

Uma ausência meio sem nome. Um buraco que nem sempre dói, mas incomoda.

Talvez seja a velocidade. A forma como as coisas chegam e somem.

Uma notificação, um like, uma notícia ruim, um novo vídeo engraçado, uma nova frustração…

A gente não tem mais tempo de digerir nada. E quem não digere, engasga. Com sentimentos, com expectativas, com palavras que não disse.

Ou talvez seja a comparação. Todo mundo vivendo uma vida bonita demais nos stories, com legendas profundas, pele perfeita e certezas no olhar.

E aí você olha pra si mesmo — com dúvida no peito, olheira acumulada e umas dores que ninguém vê — e pensa: “o que tem de errado comigo?”

A verdade é que estamos tentando ser versões inteiras em um mundo que vive em pedaços. E isso cansa. Cansa não saber quem você é quando não está tentando impressionar. Cansa carregar sorrisos forçados enquanto a alma implora por silêncio.

Mas será que existe mesmo essa tal inteireza que a gente tanto procura? Ou será que ser jovem é justamente aprender a conviver com essas partes faltantes?

Talvez o que nos falta hoje seja apenas espaço pra sentir. Sentir sem precisar explicar. Sentir sem resolver. Só sentir.

E se estar inteiro não for sobre estar completo, mas sobre aceitar o que ainda está em construção?